A segunda parte do texto de Celso
Arnaldo completa a radiografia da entrevista assustadora. Embarquem
novamente no trem-bala do horror, amigos. Volto no fim:
Ok, a criança chegou a um hospital de alta complexidade criado por
Dilma — sim, porque ninguém tinha pensado antes num hospital para
atender doenças mais graves. O InCor, por exemplo, é uma miragem. O que
vai acontecer ali? Agora, sim, Dilma revela o que viu na Bahia que a
impressionou tanto:
“Uma proposta que conjuga não só tecnologia de ponta, tecnologia
sofisticada pro tratamento da criança, mas também um grande nível de
humanização, porque eles usam todo aquela questão do envolvimento da
criança, mostrano que a boneca vai, tamém, cuidá da cabeça ou quando a
criança é submetida a algum nivel de tratamento mais estressante, tomá
os cuidados para garanti que psicologicamente ela se…enfim, ela tenha
uma chegada maior a um processo que inclusive é de dor”.
Nos hospitais de Dilma, os doutores serão de uma alegria só — até o
dia da “chegada maior” de Dilma pra cuidá da cabeça com a boneca.
Nos longos minutos que se seguem, Dilma se dedica a tentar provar, de
novo, que as creches são a diferença entre Bill Gates e Nem do tráfico.
Ela repete, no mesmo palavreado vão e leviano, a promessa das 6 mil
creches em quatro anos — mas de novo não explica, nem lhe foi
perguntado pela mídia adestrada, porque não convenceu Lula a fazer uma
só como protótipo ao longo de oito anos.
Depois da creche, o processo de “atendimento integral” das crianças
da presidente Dilma passa evidentemente pela escola. Está em marcha uma
revolução que faria o companheiro Paulo Freire parecer uma professorinha
de quermesse:
“Já existe 10 mil, em torno de 10 mil escolas no Brasil, é, de
ensino, de ensino fundamental, de ensino mé…., de ensino fundamental e
médio, de ensino básico, portanto…”
Interrompida pelo Controle Social da Mídia. Se a presidente Dilma
passou com louvor na prova de saúde, nessa questão da escola ela precisa
estudar um pouquinho mais. Vamos deixar para a próxima?
Uma jornalista então quer saber: por que esse interesse tão súbito da presidente pela “criança integral”?
Atenção para a resposta, professor Sirio Possenti:
– Eu vô sê vó!!
E isso desperta em vovó Dilma não só instintos avoengos como essa
dedicação integral à criança, que ela justifica com uma máxima inédita:
– As crianças são o futuro deste país.
Até aqui, Dilma falara sem ser questionada. Timidamente, uma repórter
parece perguntar se essa tal Rede Cegonha já não existe em algum lugar.
A presidente se irrita, pela primeira vez:
“O Rede Cegonha é uma criação do Rio de Janeiro. Não é nossa. É uma
parte também do Mãe Coruja, de Pernambuco. Essa mania das pessoas se
adonarem de projetos que estão em curso no Brasil é errado.”
Taí: gostei do “se adonarem” — em 11 meses de caçada, é a primeira
expressão original, e correta, que ouço de Dilma. Mas quem está se
adonando dos projetos alheios é a presidente Dilma, não é não?
O SAMU Cegonha, que “nós criamos”, também já não existe, presidente?
“O SAMU Cegonha inclusive ele existe, tem até uma cegonha pintada naquela parte branca da….do…..”
A presidente parece ter até desistido da conclusão do pensamento quando vem o sopro redentor:
– Da ambulância.
– Da ambulância, né?
Seria cômico, se não fosse trágico: nos próximos quatro anos, é isso aí.
Brilhante como sempre, o texto de Celso Arnaldo colide
estrondosamente com a indigência mental da sucessora que Lula inventou.
Também por isso, não dou por liquidada a disputa pela Presidência da
República. Falta um mês para a votação. No calendário político isso é
uma eternidade. É mais que suficiente para que a oposição mostre ao
Brasil o que vem por aí com a mesma nitidez e objetividade que marcam
todos os posts sobre a candidata aqui publicados. Tempo para
desconstruir a farsa existe de sobra. O que tem faltado à campanha de
José Serra é lucidez, coragem, valentia e, sobretudo, vontade de vencer.
Acompanho confrontos eleitorais desde que nasci. Dois anos
depois de derrotado na estreia como candidato a prefeito, e dois anos
antes de conquistar o cargo que exerceria quatro vezes, meu pai vivia
como sempre viveu: em campanha. Primeiro em Taquaritinga, na região e no
Estado de São Paulo, depois como jornalista, testemunhei incontáveis
duelos do gênero em todos os níveis — sempre na fila do gargarejo. Sei o
que estou dizendo ao afirmar que Dilma Rousseff é a adversária que todo
candidato pede a Deus. O problema é que, até agora, José Serra também
tem sido.
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